Maria Velho da Costa, Maria Isabel Barreno e Maria Teresa Horta - “as três Marias” – foram as autoras da obra Novas Cartas Portuguesas, editada em 1972.
O livro revelou ao mundo a existência de situações discriminatórias agudas em Portugal, relacionadas com a repressão ditatorial, o poder do patriarcado católico e a condição da mulher (casamento, maternidade, sexualidade feminina). As Novas Cartas Portuguesas denunciaram também as injustiças da guerra colonial e as realidades dos portugueses enquanto colonialistas em África, emigrantes, refugiados ou exilados no mundo, e “retornados” em Portugal.
Enquanto obra literária, não se trata de um romance ou ensaio, mas também não é apenas um manifesto feminista. As três escritoras assinam a obra em conjunto e jamais revelaram qual delas compôs cada fragmento.
Após publicação, a obra foi considerada prejudicial ao regime e proibida pela censura. Os textos foram considerados “imorais e pornográficos”, pois retratavam mulheres livres, que questionam a sua identidade e expressam o desejo de ter acesso a novas ideias sociais e religiosas. Foi aberto um processo contra as autoras, tornando o texto e a sua supressão um caso famoso internacionalmente.
O impacto internacional da obra foi imediato. Além da divulgação pela escritora Simone de Beauvoir, o mundo teve conhecimento do processo de que estavam a ser alvo, através da cobertura do julgamento feita por meios de comunicação social internacionais.
De imediato, verificaram-se manifestações feministas em frente a várias embaixadas de Portugal no estrangeiro e várias personalidades internacionais como Marguerite Duras, Doris Lessing, Iris Murdoch e Delphine Seyrig saíram em defesa pública da obra, e das autoras.
Estas ações fizeram com que o caso fosse votado, em junho de 1973, numa conferência da National Organization for Women, nos Estados Unidos, como a primeira causa feminista internacional.
O processo foi suspenso e as autoras absolvidas somente após o 25 de abril de 1974.
Fonte: Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género
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