CIDADANIA
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Em
plena serra do Alvão, um grupo e investigadores da Universidade de
Trás-os-Montes e Alto Douro/UTAD estuda há vários anos uma espécie já
extinta em vários países da Europa. A borboleta azul tem encontrado em
Portugal a sobrevivência e em particular num pequeno lameiro. O desafio
dos investigadores é agora conseguir o cruzamento com outros indivíduos
da mesma espécie para evitar os problemas de consanguinidade.
Paula Seixas, entomóloga da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro
Maculinea alcon - Uma espécie em vias de extinção
A Câmara de Vila Real vai dispor de 1,7 milhões de euros para dois projetos de preservação das espécies ameaçadas no Alvão e no Marão. Uma nova esperança para a borboleta-azul.
Todos os Verões, grupos de jovens voluntários portugueses e estrangeiros trocam alguns dias das suas férias por trabalho na natureza, no Parque Natural do Alvão. Objetivo: salvar a borboleta-azul, uma espécie tão rara como estranha, que para sobreviver precisa das flores de genciana e de uma determinada espécie de formiga, em cujo formigueiro vive quase um ano.
A borboleta-azul está em risco de extinção em vários países europeus. Em Portugal é considerada em perigo desde 1994. A sua maior colónia pode ser observada no Parque Natural do Alvão, mas infelizmente algumas da suas populações reduziram-se drasticamente nas últimas décadas. Com um papel importante no ecossistema, não só como polinizadora, mas também como alimento da algumas aves e mamíferos, o estudo da Maculinea alcon tornou-se uma prioridade. É que não se conhece ao certo o número de populações existentes em Portugal.
"Neste momento estamos a trabalhar com quatro colónias, menos de metade das que existiam há uns anos. Três delas são muito pequenas e a maior, este ano com cerca de 4000 indivíduos em fase adulta, está instalada em Lamas de Olo", refere Paula Seixas, entomóloga da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro.
No Norte, vivem essencialmente em lameiros, prados permanentes de vegetação herbácea que se situam nas proximidades de zonas de água. A zona onde reside a maior população da espécie tem vindo a ser estudada há quatro anos. "Os resultados são animadores. verificou--se um aumento no número de indivíduos, desde o primeiro ano", diz a entomóloga.
As curiosas características do ciclo de vida da borboleta-azul são um dos principais fatores que a torna tão sensível. Depende da genciana (Gentiana pneumonanthe), que lhe serve de planta hospedeira para os primeiros tempos de vida; depois, já em fase larvar, é "adotada" pelo género de formigas myrmica, em cujos formigueiros vive quase um ano. Sai em adulta, reproduz-se e... vive apenas cinco a sete dias.
Henrique Pereira, biólogo do Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade, Departamento de Gestão de Áreas Classificadas do Norte, explica que "quando se alteram as utilidades dos terrenos agrícolas, vai também haver mudança na biodiversidade das espécies de fauna e flora. Se os agricultores abandonam os lameiros começa a haver concorrência entre as herbáceas e plantas como a genciana passam a ter dificuldade em se desenvolver. E a borboleta-azul fica em risco". Mas, por outro lado, a presença humana tornar-se um problema. "Quando começam a surgir construções, que vão degradar zonas ideais para o desenvolvimento da planta hospedeira e dos formigueiros", salienta o biólogo.
Os ninhos de formigas podem mudar de local todos os anos, já que apenas se estabelecem em zonas com sol e humidade, sendo que o processo de adoção das larvas também só funciona com algumas espécies do género myrmica. Em Lamas de Olo foi descoberta recentemente mais uma espécie de formiga do género com capacidade hospedeira. Segundo Paula Seixas, "registámos a presença da Maculinea alcon dentro dos formigueiros de uma espécie que não era conhecida na Europa como hospedeira, o que é um dado novo e importante do ponto de vista da ciência e investigação e estamos agora a trabalhar nele".
Esta complexa relação borboleta-azul, genciana e formiga que tem colocado a espécie numa situação precária tem vindo a ser combatida por algumas iniciativas locais. O Parque Natural do Alvão tem trabalhado em atividades de envolvimento de cidadãos na proteção e conservação do património natural, nomeadamente através de organização de campos de voluntariado com escuteiros, universitários ou outras organizações individuais. "Há uma ligação de destaque do Parque ao British Trust for Conservation Volunteers (BTCV) que anualmente coorganiza um campo de voluntariado internacional".
Durante esses dias trabalham-se algumas iniciativas, desde ações de combate a espécies invasoras, recuperação de áreas degradadas, melhoramento de habitats, até à conservação dos lameiros onde vive a borboleta-azul.
Desde 1993 estes pequenos grupos de voluntários britânicos e de outras nacionalidades trocam alguns dias das suas férias de Verão por um trabalho ao serviço da Natureza. "Nos finais de Junho, antes da floração da genciana e da emergência dos adultos da borboleta-azul, realizamos trabalhos de corte de arbustos e fetos dos lameiros referenciados para a espécie, visando facilitar o voo das borboletas, e as posturas nas flores de genciana". Em Janeiro próximo está programado o arranque de projetos a cargo da Câmara Municipal de Vila Real cujo investimento é de 1,7 milhões de euros.
Esperamos ter o mesmo sucesso que o Reino Unido, onde a espécie esteve quase extinta, mas foi salva através de um plano de recuperação de habitat, que permitiu reverter a situação.
Mariana Correia de Barros, "A um leve bater de asas da extinção", DN Ciência,25 outubro 2009, in
Lagarta de borboleta azul transportada por uma formiga. Photo credit: Paulo Ricca |
Flor de genciana. Photo crediti: http://en.wikipedia.org/wiki/Gentiana_pneumonanthe |
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