Um projeto original!
Para promover o livro e a leitura, a Biblioteca da Camilo dinamizou mais um encontro dos alunos da Camilo com um escritor.
Assim, conforme previsto, ontem, dia 21 de janeiro, Richard Towers encontrou-se com alunos do 7º A, 8º B, 10º I e 12º E, acompanhados dos respetivos professores (Álvaro Pinto, Elza Pinto, Paula Parente e Graça Campolargo), no Auditório 1 da nossa escola.
O escritor, que foi professor de Português e fez a sua licenciatura na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro/UTAD, começou por explicar que abandonou a carreira docente para perseguir um sonho - a escrita criativa associada a um projeto original que associa a apresentação gráfica dos livros à temática central neles abordada - passando, de seguida, a apresentar cada um dos seus três livros-objetos já publicados.
Quatro alunos do 7º ano leram extratos dos seus textos, acompanhados à viola pelo escritor.
Excerto de Reflexos
In Reflexos, Richard Towers, 2011, pp. 7-8
Excerto
de O Desafio
As crianças
brincam. São espíritos felizes. Correm, saltam, gritam. Para lá do vidro, tudo
parece mais claro, mais puro, como a neve que cai numa cadência mágica, num
silêncio hipnótico. É um dia frio de Inverno, a temperatura ronda os dez graus
abaixo de zero, mas há um calor que nasce de dentro e inspira. Sei agora que
nunca voltarei a ser o mesmo. Sei que nunca voltarei a olhar para o mundo da
mesma forma. Há toda uma verdade escondida para lá do que é óbvio, para lá do
espetáculo que a vida e o mundo nos oferecem. Sei, porque o descobri. Descobri
que vivemos uma ilusão e que, ao virar da esquina, a sorte ou o azar espreitam
para nos derrubar. Não podemos escapar, nem desistir. O nosso destino é ir até
ao fim. Olho para lá do vidro e compreendo o significado de uma vida em busca
de felicidade. A felicidade está ali, nas crianças que saltam, e correm, e
gritam. A felicidade está nessa contemplação, não no tabuleiro que enfeitiça. O
objetivo é a vida, não o jogo. Por isso o abandono, por isso viro costas, mesmo
sabendo que jogando, poderia tornar-me um deus. O abismo e a luz coabitam no
mesmo espaço. Cabe-nos a nós escolher por onde queremos caminhar. Caminho para
a saída, para a luz. Abro a porta, miro o espaço uma última vez, numa despedida
do passado, no fechar de um capítulo. Todos temos uma segunda oportunidade. Eu
sou a segunda oportunidade. Desço as escadas em caracol. Não sinto a náusea do
trajeto, nem o agreste corrimão que me arde sob as mãos. Apenas sinto o alívio
da escolha. E fecho a porta atrás de mim com um sorriso firme. Porque estou
seguro da minha opção.
In O Desafio, Richard Towers, 2012, pp.
297-298
Excerto
de Tempo
Imaginemos
que alguém consegue descobrir a fórmula para a imortalidade. Que interesse
teria a vida sem a morte? Pois uma é indissociável da outra e uma existe na
sombra da outra. Neste fio temporal da existência, alterna-se a vida com a morte.
Nesta intermitência, consideramos uma o oposto da outra. Mas será assim mesmo?
Não será antes uma a continuação da outra? Se assumirmos a perspectiva de uma
anulação contínua, concluímos que não faz sentido criar uma solução que não
contemple uma alternativa. O conceito de vida não existe sem a morte. É como a
folha e o seu verso. São iguais em tudo, porém, num lado, a letras vibrantes e
apaixonadas, inscreve-se a vida; no outro, vogando no vazio, repousa a morte. E
assim se define a existência. Um equilíbrio entre a luz e a sombra. Entre o
vazio e o cheio. O ser e o não-ser. E tão necessária é uma como a outra. É
neste contexto que o tempo procura encontrar o seu lugar. A contagem, que se
inicia quando nascemos e termina quando morremos, é efectuada de modo
incessante por todos nós. Contabilizamos a existência uns dos outros. Dizemos
que tal pessoa viveu tantos anos. E só assim conseguimos enquadrá-la no plano
existencial; porém, essa pessoa não viveu x
anos, mas sim em determinado espaço. Moveu-se, decidiu, agiu,
contemporizou, avançou, retrocedeu, fez, desfez, amou, riu, chorou, cresceu,
envelheceu. Foi. Existiu. Em suma, pensando ser diferente, não fugiu à linha
oblíqua da vida. Só aqueles que conseguem fugir ao rumo provável da existência
podem aspirar a quebrar o elo do tempo. Escapar ao destino é uma das nossas
incansáveis tarefas.
in Tempo, Richard Towers, 2011, pp. 82-83
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