domingo, 22 de janeiro de 2017

Camilo Castelo Branco | Anátema






Livros selecionados para a 1ª prova de seleção do CNL

"O romance de Camilo participa do folhetim, participa do panfleto, participa da crónica, participa do comentário, divagação ou confissão pessoal, participa, como já foi dito, do que geralmente chamamos novela, e até do que, num sentido técnico fixado, geralmente chamamos romance. É, pois, irregular e compósito -, no que em certa medida se avizinha do romance moderno. Visivelmente, a personalidade e os humores de Camilo dominam o seu romance: impõem-lhe uma técnica desigual, volúvel, diversa, caprichosa, livre (ou licenciosa) como essa mesma personalidade, esses mesmos humores. Neste sentido é Camilo um mestre que pode servir como exemplo, (até como representante de certo pendor português para a improvisação e a confusão) mas não pode conquistar discípulos aos quais ofereça regras que não tem ele próprio." - NEMÉSIO, Vitorino (1945), "Camilo" in Ondas Médias: Biografia e Literatura, Bertrand Editora, Lisboa, s/ edição.




"Primeiro romance de Camilo, Anátema tem como figura central o Padre Carlos da Silva, nascido dos amores de Cristóvão da Veiga e de Antónia Bacelar, o qual procura vingar o facto de seu pai ter abandonado a mãe. Para tal serve-se da paixão entre Manuel da Cunha e Távora e Inês da Veiga, sua meia-irmã, cujo calvário, até à desonra e à perdição, constitui o argumento deste romance original, em que se acompanha também a história de Timóteo de Oliveira, filho destes, e que, desde o berço, traz gravado no braço direito a inscrição ANÁTEMA." (Contra-capa)






Biobibliografia do autor


Camilo é o nosso maior novelista entre os anos 50 e 80 do século XIX e um dos grandes génios da Literatura Portuguesa. Nasceu em 1825, em Lisboa, e suicidou-se a 1 de junho de 1890, em S. Miguel de Ceide (Famalicão). Ficou órfão de mãe aos dois anos e de pai aos nove. A partir desta idade passa a viver em Vila Real com uma tia paterna. Aos 16 anos, casa-se em Friúme (Ribeira de Pena). Em 1844, instala-se no Porto com o intuito de cursar Medicina, mas não passa do 2º ano. Em 1845, estreia-se na poesia e no ano seguinte no teatro e no jornalismo - atividade que nunca abandonará. Viúvo desde 1847, fixa-se definitivamente no Porto a partir de 1848 (onde, em 1846, já estivera preso por ter raptado Patrícia Emília). De 1849 a 1851 consolida a sua atividade jornalística, retoma o teatro, estreia-se no romance com "Anátema" (1851), conhece a alta-roda portuense bem como os meios boémios e é protagonista de aventuras romanescas. 

Em 1853, abandona o curso de Teologia no Seminário Episcopal, funda vários jornais e em 1855 é o redator principal de "O Porto" e de "Carta". Já então o seu nome começava a soar nos meios jornalísticos e literários do Porto e de Lisboa: já alimentara várias polémicas e publicara alguns romances. Mas é a partir de 1856 que atinge a maturidade literária (no domínio dos processos de escrita) com o romance (ou novela?) "Onde Está a Felicidade?". É neste ano que inicia o relacionamento amoroso com Ana Plácido, casada desde 1850 com Manuel Pinheiro Alves. Por proposta de Alexandre Herculano, é eleito sócio da Academia Real das Ciências de Lisboa em 1858 - ano em que nasce Manuel Plácido, filho de Camilo e de Ana Plácido. Em 1860, Manuel Pinheiro Alves desencadeia o processo de adultério: em junho é presa a mulher e a 1 de outubro Camilo entrega-se na cadeia da Relação do Porto. D. Pedro V visita-o, em 1861, na cadeia, e a 16 de outubro desse ano os réus são absolvidos. É intensa a atividade literária de Camilo (não sendo a esse facto de todo alheias as dificuldades económicas): entre 1862 e 1863, o escritor publica onze novelas e romances atingindo uma notoriedade dificilmente igualável. Em 1864, fixa-se na quinta de S. Miguel de Ceide (propriedade de Manuel Pinheiro Alves, que, entretanto, já faleceu, em 1863) e nasce-lhe o terceiro filho, Nuno. Quatro anos depois, dirige a Gazeta Literária do Porto; em 1870 inicia o processo do viscondado (o título ser-lhe-á atribuído em 1885), e, em 1876, toma consciência da loucura do segundo filho, Jorge. No ano seguinte morre Manuel Plácido. A partir de 1881, agravam-se os padecimentos, incluindo a doença dos olhos. Em 1889, por ocasião do seu aniversário (16 de março), é objeto de calorosa homenagem de escritores, artistas e estudantes, promovida por João de Deus. No ano seguinte, já cego, impossibilitado de escrever (a escrita foi, no fim de contas, a sua grande paixão), suicida-se com um tiro de revólver. A casa de Ceide é hoje o museu do escritor. 

Foi Camilo o primeiro escritor profissional entre nós. Dotado de uma capacidade prodigiosa para efabular narrativas, conhecedor profundo do idioma, observador, ora complacente, ora sarcástico, da sociedade (sobretudo da aristocracia decadente e da burguesia boçal e endinheirada), inclinado (por gosto, por temperamento e formação) para a intriga e análise passionais (muitas vezes atingindo o sublime da tragédia, como no "Amor de Perdição"), este genial autor romântico deixou-nos uma obra incontornável (apesar de irregular) na evolução da prosa literária portuguesa. De facto, foi na novela passional e no "romance de costumes" que Camilo se notabilizou, legando-nos uma série de personagens ainda hoje inesquecíveis, quadros e situações que valem pela espontaneidade narrativa, pelo ritmo avassalador da ação, pela sugestão realista e ainda pela novidade temática, como em "A Queda dum Anjo". A sua versatilidade literária e criadora (aliada à necessidade de não perder o público com a progressiva influência de Eça e de Teixeira de Queirós) levam-no a assimilar (depois de ter parodiado) a atitude estética e os processos de escrita do Realismo e do Naturalismo, visíveis nesse notável livro que é "A Brasileira de Prazins" e em certa medida já iniciados com as "Novelas do Minho". A sua arte de narrar constituiu, a par da de Eça de Queirós, um modelo literário para muitos escritores, principalmente até meados do século XX. 
As suas obras principais são: "A Filha do Arcediago", 1855; "Onde está a Felicidade?", 1856; "Vingança", 1858; "O Romance dum Homem Rico", 1861; "Amor de Perdição", 1862; "Memórias do Cárcere", 1862; "O Bem e o Mal", 1863; "Vinte Horas de Liteira", 1864; "A Queda dum Anjo", 1865; "O Retrato de Ricardina", 1868; "A Mulher Fatal", 1870; "O Regicida", 1874; "Novelas do Minho", 1875-1877; "Eusébio Macário", 1879; "A Brasileira de Prazins", 1882. 

Além destas obras em prosa narrativa, assinale-se ainda os outros géneros (ou domínios) pelos quais se repartiu o labor de Camilo: poesia, teatro (de que se deve destacar "O Morgado de Fafe em Lisboa", 1861, e "O Morgado de Fafe Amoroso", 1865), dezenas de traduções (do francês e do inglês), polémica, prefácios, biografia, história, crítica literária, jornalismo e epistolografia (compreendendo mais de duas mil cartas). © 2003 Porto Editora, Lda.





Sem comentários: