quinta-feira, 13 de outubro de 2016

Bob Dylan | Prémio Nobel da Literatura 2016



13 de outubro de 2016



"O Prémio Nobel da Literatura foi hoje atribuído em Estocolmo a Bob Dylan. O músico norte-americano tornou-se o 113.º escritor a receber o mais cobiçado prémio literário do planeta. «Por ter criado novas formas de expressão poética no quadro da grande tradição da música americana», foi assim que a Academia Sueca justificou a entrega do Nobel ao cantor norte-americano.

É o primeiro norte-americano a ganhar o prémio desde Toni Morrison, em 1993. Mais relevante, porém, é o facto de, depois de vários anos em que o seu nome foi avançado como possível vencedor, a atribuição do Nobel a Dylan servir como legimitação literária da canção popular, de que o cantor de Blowing in the wind é um dos maiores representantes. Não por acaso, Sara Danius, Secretária Permanente da Academia Sueca, reconhecendo que a distinção de alguém cujo ofício é o das canções pode ser controverso, manifestou a esperança de a Academia não ser criticada pela escolha. «The times they are-a changing, perhaps»(«Talvez os tempos estejam a mudar»), afirmou, citando o título de uma das mais famosas canções de Dylan.

Nascido em Dulluth, no Minnesota, a 24 de Maio de 1941, Bob Dylan foi uma figura fulcral na revolução musical e cultural da década de 1960. Partindo da tradição folk, blues e country americanas, mas transportando-a para uma nova era de convulsão política e agitação social, levou a palavra, como nunca antes, para o centro da criação pop. Assinou 37 álbuns desde a estreia homónima em 1962. Fallen Angels, editado em 2016, é o último até ao momento."






Um poema de Dylan






Not Dark Yet

Shadows are falling and I’ve been here all day
It’s too hot to sleep, time is running away
Feel like my soul has turned into steel
I’ve still got the scars that the sun didn’t heal
There’s not even room enough to be anywhere
It’s not dark yet, but it’s getting there

Well, my sense of humanity has gone down the drain
Behind every beautiful thing there’s been some kind of pain
She wrote me a letter and she wrote it so kind
She put down in writing what was in her mind
I just don’t see why I should even care
It’s not dark yet, but it’s getting there

Well, I’ve been to London and I’ve been to gay Paree
I’ve followed the river and I got to the sea
I’ve been down on the bottom of a world full of lies
I ain’t looking for nothing in anyone’s eyes
Sometimes my burden seems more than I can bear
It’s not dark yet, but it’s getting there

I was born here and I’ll die here against my will
I know it looks like I’m moving, but I’m standing still
Every nerve in my body is so vacant and numb
I can’t even remember what it was I came here to get away from
Don’t even hear a murmur of a prayer
It’s not dark yet, but it’s getting there

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(tradução)

Ainda Não Escureceu

Descem as sombras e passei aqui o dia
Está calor a mais para dormir, o tempo foge
Sinto como se minha alma se tivesse transformado em aço
Tenho ainda as cicatrizes que o sol não sarou
Nem sequer há espaço suficiente para estar em qualquer lado
Ainda não escureceu, mas não tarda.

Bem, a minha humanidade foi pelo cano abaixo
Atrás de todas as coisas belas sempre houve algum tipo de dor
Ela escreveu-me uma carta e escreveu-a de forma tão gentil [1]
Pôs por escrito o que lhe ia na mente
Só não percebo porque me havia eu de importar
Ainda não escureceu, mas não tarda.

Bem, estive em Londres e estive na alegre Paris
Segui o rio e cheguei ao mar
Toquei no fundo dum mundo cheio de mentiras
Não procuro nada nos olhos de ninguém
Por vezes o meu fardo parece demasiado pesado
Ainda não escureceu, mas não tarda.

Aqui nasci e aqui morrerei contra minha vontade
Sei que parece que estou a mexer-me, mas estou parado
Cada nervo do meu corpo está tão vazio e entorpecido
Nem consigo sequer lembrar-me de que fugia quando vim para aqui
Não ouço sequer o murmúrio duma oração
Ainda não escureceu, mas não tarda.

Tradução de Pedro Serrano e Angelina Barbosa

[1] Citação do verso “she wrote me a letter and she wrote it so kind”, da canção Girl From The Red River Shore da autoria de Slim Critchlow. (Nota dos tradutores)

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