Eduardo Brito realiza o drama, com Maria João Pinho, Joana Ribeiro e Raimundo Cosme nos principais papéis.
Aprosa de Agustina Bessa-Luís dá-se mal com o cinema. Dá-se mal, sejamos rigorosos, com a oralidade, porque os seus arabescos e circunvoluções impelem, muitas vezes, o leitor a voltar atrás, em releitura, necessidade que a fala torna impossível. No cinema, arte onde o tempo avança, não há o retorno de que aquelas palavras precisam.
Só Manoel de Oliveira foi, com sucesso, ao território da escritora, mas Oliveira e Agustina partilhavam antiga relação duriense, eram amigos, nem assim, todavia, ele se livrou de admoestações públicas que ela não se esqueceu de ministrar. É, por isso, grato ver Eduardo Brito a pegar no emblemático texto de “A Sibila” e dar-lhe uma transposição cinematográfica que não desdoura a brutalidade dramática da escrita. Claro que os aficionados mais amorosos da prosa de Agustina hão de dizer que o filme não lhe equivale. Todavia, mesmo sem chamar a terreiro a anedota das cabras de Hitchcock para chalacear a polémica, há que convir, tal era impossível. Temos, no entanto, uma figura de mulher do Douro, seca e inclemente, inflexível na sua determinação tentacular de angariar terras e mais terras ou, talvez seja melhor dizer, poder, como se houvesse uma vidência qualquer que lhe permitisse manipular as gentes. Temos Maria João Pinho a agarrar um papel difícil de protagonista que é suposto fascinar e repelir o espectador, criatura malsã a chamar o fechamento que a atriz tem quase como imagem de marca e a exigir pequenos detalhes significativos: um gesto de mão, um movimento de olhos, qualquer coisa nos lábios que faz e desfaz. Temos uma cenografia enxuta, funcional, serena, exata. Temos uma ‘mise-en-scène’ em registo frio, sem exibicionismo, mais para olhar que para estremecer, apoiada na fotografia com alguns luxos de requinte, Mário Castanheira, a laborar em modo clássico. As comemorações do centenário de Agustina fecham em bom tom.
Só Manoel de Oliveira foi, com sucesso, ao território da escritora, mas Oliveira e Agustina partilhavam antiga relação duriense, eram amigos, nem assim, todavia, ele se livrou de admoestações públicas que ela não se esqueceu de ministrar. É, por isso, grato ver Eduardo Brito a pegar no emblemático texto de “A Sibila” e dar-lhe uma transposição cinematográfica que não desdoura a brutalidade dramática da escrita. Claro que os aficionados mais amorosos da prosa de Agustina hão de dizer que o filme não lhe equivale. Todavia, mesmo sem chamar a terreiro a anedota das cabras de Hitchcock para chalacear a polémica, há que convir, tal era impossível. Temos, no entanto, uma figura de mulher do Douro, seca e inclemente, inflexível na sua determinação tentacular de angariar terras e mais terras ou, talvez seja melhor dizer, poder, como se houvesse uma vidência qualquer que lhe permitisse manipular as gentes. Temos Maria João Pinho a agarrar um papel difícil de protagonista que é suposto fascinar e repelir o espectador, criatura malsã a chamar o fechamento que a atriz tem quase como imagem de marca e a exigir pequenos detalhes significativos: um gesto de mão, um movimento de olhos, qualquer coisa nos lábios que faz e desfaz. Temos uma cenografia enxuta, funcional, serena, exata. Temos uma ‘mise-en-scène’ em registo frio, sem exibicionismo, mais para olhar que para estremecer, apoiada na fotografia com alguns luxos de requinte, Mário Castanheira, a laborar em modo clássico. As comemorações do centenário de Agustina fecham em bom tom.
Jorge Leitão Barros. Revista E, Semanário Expresso#2660, de 20 de outubro de 2023
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