quinta-feira, 28 de julho de 2016

Como ler e porquê







"Não há uma forma única de ler bem, apesar de existir uma razão fundamental para ler. A informação é-nos infinitamente disponível, mas onde poderemos encontrar a sabedoria? Com sorte, podemos conhecer um professor que nos ajude, mas no fundo estamos sozinhos e seguimos em frente sem mais mediações. Ler bem é um dos grandes prazeres que a solidão nos pode proporcionar, porque é, pelo menos segunda a minha experiência, o prazer mais regenerador. Devolve-nos à alteridade, ao que é outro em nós, nos nossos amigos ou naqueles que poderão vir a sê-lo. A literatura de imaginação é alteridade, e enquanto tal alivia a solidão. [...] 

Este livro ensina como e por que ler, procedendo através de uma variedade de exemplos e de casos: poemas curtos e longos, contos, romances e textos dramáticos. [...] Virginia Woolf, em How Should One Read a Book? [Como se deve ler um livro?] - um breve ensaio final no seu Second Common Reader [O Leitor Comum, segunda série] - dá-nos um aviso fascinante: «O único conselho, na verdade, que uma pessoa pode dar a outra sobre leitura é não aceitar conselhos». Mas acrescenta em seguida uma série de cláusulas para a apreciação da liberdade por parte do leitor, culminando com a questão «Por onde devemos começar?». Para obter da leitura os seus mais vastos e profundos prazeres, «não devemos desperdiçar os nossos poderes, de forma ignorante e desprotegida». Parece então, que, até que nos tornemos plenamente nós próprios, alguns conselhos sobre a leitura podem ser úteis, ou até mesmo essenciais."

Harold Bloom, Como ler e porquê, Lisboa: Caminho, 2001, p. 15-16 


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