segunda-feira, 15 de agosto de 2022

100 anos da revista Contemporânea

 




















A mulher e o galgo, de Almada Negreiros.
Revista Contemporânea. Ano 1, nº 2, junho 1922
Hemeroteca Digital

A

revista “Contemporanea” contou com nove números, saídos entre 1922 e 1923. Em 1924 saiu o nº 10 e em 1926 mais três. Organizado pelo arquiteto José Pacheco, o centenário da sua publicação celebra-se este ano. Na “Contemporanea” era evidente a existência de uma aliança entre o integralismo de António Sardinha e o modernismo de Fernando Pessoa e Almada Negreiros. Uma aliança feita em nome de um nacionalismo de que o Estado Novo se iria aproveitar.

Na matriz folclórica, etnográfica e das artes populares, partilhada por Veiga Simões e Vergílio Correia, dois outros colaboradores da revista, a força de um povo orientado por um escol contrapunha-se quer às lutas políticas consideradas estéreis quer aos projetos estéticos situados em “torres de péssima porcelana” (os visados seriam o simbolismo de Eugénio de Castro e o saudosismo de Teixeira de Pascoaes).

Todos os elementos acabados de referir — integralismo, modernismo, outros projetos estéticos, nacionalismo e forças que com ele concorreram, relação do escol com o povo, conhecimento folclórico, etc. — necessitam de ser tidos em linha de conta para compreender o que foi a “Contemporanea”. Uma revista eclética que articulou vozes dissonantes e na qual os seus colaboradores estavam longe de partilhar a mesma agenda.

Diogo Ramada Curto. Expresso Semanário#2598, 12 de agosto de 2022


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