sábado, 29 de fevereiro de 2020

📙 Uma biblioteca é liberdade!






"O conhecimento liberta-nos, a arte liberta-nos. Uma ótima biblioteca é a liberdade.

Mergulhe no oceano das palavras, percorra os amplos campos da mente, suba as montanhas da imaginação. Como o garoto em Carnegie ou o estudante em Widener, essa era minha liberdade, essa era minha alegria. E ainda é.

Essa alegria não deve ser vendida. Não deve ser "privatizada", convertida num outro privilégio para os privilegiados. Uma biblioteca pública é uma confiança pública.

E essa liberdade não deve ser comprometida. Ela deve estar disponível para todos que precisam, e é todo o mundo, quando precisam, e é sempre isso.

Uma biblioteca é um ponto focal, um local sagrado para uma comunidade; e o seu caráter sagrado é a sua acessibilidade, a sua audiência. É o lugar de todos."




Referência:


Universo Abierto, Una gran biblioteca es la libertad, Blog da Biblioteca de Tradução e Documentação da Universidade de Salamanca, 29 de fevereiro de 2020




 

 







2020 é ano bissexto









De facto, 2020 é um ano bissexto: o mês de fevereiro tem 29 dias.

Chama-se ano bissexto o ano ao qual é acrescentado um dia extra, ficando com 366 dias, um dia a mais do que os anos normais de 365 dias, ocorrendo a cada quatro anos (exceto anos múltiplos de 100 que não são múltiplos de 400). Isto é feito com o objetivo de manter o calendário anual ajustado com a translação da Terra e com os eventos sazonais relacionados às estações do ano. O ano presente (2020) é bissexto. O ano bissexto anterior foi 2016 e o próximo será 2024.

A origem do nome bissexto advém da implantação do Calendário Juliano em 48 a.C. que se modificou evoluindo para o Calendário Gregoriano que hoje é usado em muitos países a todos os quais ocorrem os anos bissextos.

Dentro de um contexto histórico, a inclusão deste dia extra, dito dia intercalar, ocorreu e é feita em calendários ditos solares em diferentes meses e posições. No Calendário Gregoriano é acrescentado ao final do mês de Fevereiro, sendo seu 29º dia.




sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Reutilização da água



SUSTENTABILIDADE 
Comissão Europeia









A reutilização da água na UE está atualmente muito abaixo do seu potencial, não obstante o facto de o impacto ambiental e a energia necessária para a extração e o transporte de água doce ser muito mais elevado. Um terço do território da UE sofre de stresse hídrico durante todo o ano e a escassez de água continua a ser uma preocupação importante para muitos Estados-Membros da UE.

Cada vez mais, padrões meteorológicos imprevisíveis, incluindo secas graves, são igualmente suscetíveis de ter consequências negativas para a quantidade e a qualidade dos recursos de água doce. As novas regras da Comissão Europeia pretendem garantir que fazemos o melhor uso das águas tratadas provenientes de estações de tratamento de águas residuais urbanas, garantindo um abastecimento alternativo de água fiável. Ao tornar viáveis as águas residuais, as novas regras contribuem igualmente para poupar custos económicos e ambientais ligados à criação de novas fontes de água.


Plásticos descartáveis




Preparados para mudar?
#ReadyToChange  #BeatPlasticPollution










A vida move-se tão rapidamente que nem sempre temos tempo para pensar no impacto das pequenas escolhas diárias que fazemos - como usar uma chávena de café para viagem com uma tampa de plástico ou aceitar uma palhinha com a nossa bebida. 43% de todo lixo marinho que polui os nossos oceanos é composto por apenas 10 tipos de itens de plástico descartáveis; recipientes para alimentos, copos e tampas para bebidas, cotonetes, talheres (incluindo pratos, agitadores e palhas), balões e palitos, pacotes e invólucros, garrafas de bebidas, periscas de cigarro, produtos sanitários e sacos. 

Quando deixamos de usar esses itens, geralmente acabam no mundo natural; lavado nas praias ou submerso nos nossos oceanos. Esse lixo afeta negativamente os ecossistemas, a a biodiversidade - e até a saúde humana. Isso não pode continuar. Precisamos de estar prontos para mudar a maneira como pensamos sobre o plástico descartável. 

A iniciativa de uso único de plástico faz parte da agenda mais ampla de economia circular da UE, incluindo a primeira estratégia de plásticos do mundo: um esforço em toda a UE para aumentar a consciencialização sobre o desperdício de plástico e a nossa transição para uma economia circular mais sustentável. A campanha de consciencialização foi lançada para acompanhar e promover novas medidas para enfrentar o problema na sua causa raiz, incluindo metas de redução e recolha, obrigações para os produtores e medidas de consciencialização.











Aquários mundiais contra a poluição plástica




(IN)SUSTENTABILIDADE











A Comissão Europeia lançou em 2017 a campanha “Aquários mundiais contra lixo marinho” no âmbito da 4ª conferência Our Ocean, realizada em Malta pela União Europeia. Após o enorme sucesso dessa campanha, foi decidido transformá-la num compromisso formal anunciado pela Comissão Europeia na 5ª conferência Our Ocean, em Bali, em 2018, em conjunto com o PNUMA e 5 parceiros internacionais.

O objetivo da campanha era ter, até 2019, pelo menos 200 aquários, consciencializando o público sobre a poluição por plásticos, e esse objetivo foi alcançado. Atualmente, existem 212 aquários em 41 países envolvidos na coalizão "Aquários mundiais #ReadyToChange to #BeatPlasticPollution". 

Em todo o mundo, organizam atividades permanentes nas suas instalações, de exposições a debates, limpeza de praias e exposições artísticas. Muitos também começaram a mudar as suas políticas de compras, por exemplo, em cantinas e lojas, a fim de eliminar todos os itens de plástico descartáveis.




Palavras de Autor | Afonso Cruz








A ideia com que Tolstoi inicia “Anna Karenina” (de que todas as famílias felizes se parecem e as infelizes são infelizes cada uma à sua maneira) tem sido um dos grandes motores da literatura que lhe sucedeu. 

Afonso Cruz pega nela, disseca-a, multiplica-a, e questiona: O que é uma família feliz? No seu último livro, vai da Mealhada à Cochinchina, do desejo de perfeição às muitas variáveis da imperfeição, tentando acercar-se da felicidade “como textura”, para concluir que é possível ser feliz até quando se sofre. 

Em Palavra de Autor, Afonso Cruz conversa com Cristina Margato e lê passagens de “Princípio de Karenina”.



Esta obra está disponível na Biblioteca.



quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Coleção digital Smithsonian | Open access




Criar. Imaginar. Descobrir.

Grátis: 3 milhões de imagens da coleção digital Smithsonian Open Access!









O Smithsonian anunciou o lançamento do Smithsonian Open Access, uma iniciativa que elimina as restrições de direitos autorais do Smithsonian de aproximadamente 2,8 milhões de suas imagens de coleção digital e quase dois séculos de dados. Isso significa que as pessoas em todo o mundo agora podem baixar, transformar e partilhar esse conteúdo de acesso aberto para qualquer finalidade, gratuitamente, sem a permissão do Smithsonian.

Entre museus e instituições culturais, este é o maior e mais interdisciplinar programa de acesso aberto até hoje. O Smithsonian continuará a adicionar elementos continuamente, com mais de 3 milhões de imagens designadas como acesso aberto até ao final de 2020. 

O conteúdo do Smithsonian Open Access inclui imagens 2D e 3D de alta resolução de itens da sua coleção, bem como conjuntos de dados de pesquisa e metadados da coleção, que os usuários podem baixar e acessar sem limitação.

Os 19 museus Smithsonian, nove centros de pesquisa, bibliotecas, arquivos e o Zoológico Nacional contribuíram com imagens ou dados para este projeto. O programa inclui conteúdo em artes, ciências, história, cultura, tecnologia e design, de retratos de figuras históricas americanas a digitalizações em 3D de esqueletos de dinossauros. Anteriormente, o Smithsonian disponibilizava mais de 4,7 milhões de imagens de coleções on-line para uso pessoal, não comercial e educacional.

O acesso aberto também significa que o conteúdo Smithsonian está disponível por meio de uma licença Creative Commons, Google Arts & Culture, Wikipedia e outras plataformas digitais, o que aumenta o alcance e o impacto dessas coleções.



quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Palestras Temáticas | Inclusão












Educação para a cidadania global











A Education Above All (EAA) tem o prazer de apresentar este estudo aos formuladores de políticas educacionais a nível internacional e nacional, num momento em que o Secretário Geral da ONU na sua Iniciativa Global de Educação está a exigir uma educação que promova a "Cidadania Global". 

As experiências de aprendizagem que preparam os alunos para uma cidadania responsável nos níveis local, nacional e global são uma parte essencial da educação de qualidade. Os resumos programáticos e temáticos reunidos aqui também contribuirão para o diálogo político em andamento sobre como a educação pode apoiar melhor a coesão social, a construção da paz e a construção do estado. 

São, portanto, relevantes para a implementação da Iniciativa do Secretário-Geral, e a programas em andamento de apoio à “educação e construção da paz” (incluindo o novo programa da UNICEF) e ao desenvolvimento da educação em estados frágeis (incluindo as novas abordagens adotadas pela Parceria Global para a Educação). 

Este livro mostra que a educação transformadora para a cidadania local, nacional e global e a paz PODE ser implementada mesmo em condições difíceis, se houver um compromisso político em fazê-lo. Os autores forneceram exemplos e lições aprendidas a partir das suas próprias experiências como profissionais eminentes no campo.

O livro está dividido em três partes. A Parte I fornece uma breve visão geral da educação para a cidadania global, incluindo, no capítulo 1, o assunto e os sub-temas, no capítulo 2, os desafios do ensino de valores pessoais e desenvolvimento de comportamento e, no capítulo 3, a importância de ter uma definição e política holística apoiada pelos principais interessados ​​e implementação eficaz. A Parte II compreende capítulos com contributos de profissionais e especialistas. Finalmente, a Parte III oferece algumas recomendações para ações futuras.



https://inee.org/pt




T.S.Eliot | Quarta-Feira de Cinzas


+ Leitur@s


«Eliot chega muitas vezes ao canto a partir do recitativo, ao tom elevado a partir do mais coloquial. É sobretudo um poeta-músico; e não é nunca ou quase nunca (como o era Valéry e o foi muitas vezes Rilke) um neo-clássico. Esta é a sua maior modernidade.» - Engénio Montale


T.S.Eliot, Prémio Nobel da Literatura 1948





Quarta-Feira de Cinzas

 I 

Porque não mais espero retornar
Porque não espero
Porque não espero retornar
A este invejando-lhe o dom e àquele o seu projeto
Não mais me empenho no .empenho de tais coisas
(Por que abriria a velha águia suas asas?)
Por que lamentaria eu, afinal,
O esvaído poder do reino trivial?

Porque não mais espero conhecer
A vacilante glória da hora positiva
Porque não penso mais
Porque sei que nada saberei
Do único poder fugaz e verdadeiro
Porque não posso beber
Lá, onde as árvores florescem e as fontes rumorejam,
Pois lá nada retorna à sua forma
Porque sei que o tempo é sempre o tempo
E que o espaço é sempre o espaço apenas
E que o real somente o é dentro de um tempo
E apenas para o espaço que o contém
Alegro-me de serem as coisas o que são
E renuncio à face abençoada
E renuncio à voz
Porque esperar não posso mais
E assim me alegro, por ter de alguma coisa edificar
De que me possa depois rejubilar

E rogo a Deus que de nós se compadeça
E rogo a Deus porque esquecer desejo
Estas coisas que comigo por demais discuto
Por demais explico
Porque não mais espero retornar
Que estas palavras afinal respondam
Por tudo o que foi feito e que refeito não será
E que a sentença por demais não pese sobre nós

Porque estas asas de voar já se esqueceram
E no ar apenas são andrajos que se arqueiam
No ar agora cabalmente exíguo e seco
Mais exíguo e mais seco que o desejo
Ensinai-nos o desvelo e o menosprezo
Ensinai-nos a estar postos em sossego.

Rogai por nós pecadores agora e na hora de nossa morte
Rogai por nós agora e na hora de nossa morte.

   
 II
 
Senhora, três leopardos brancos sob um zimbro
Ao frescor do dia repousavam, saciados
De meus braços meu coração meu fígado e do que havia
Na esfera oca do meu crânio. E disse Deus:
Viverão tais ossos? Tais ossos
Viverão? E o que pulsara outrora
Nos ossos (secos agora) disse num cicio:
Graças à bondade desta Dama
E à sua beleza, e porque ela
A meditar venera a Virgem,
É que em fulgor resplandecemos. E eu que estou aqui dissimulado
Meus feitos ofereço ao esquecimento, e consagro meu amor
Aos herdeiros do deserto e aos frutos ressequidos.
Isto é o que preserva
Minhas vísceras a fonte de meus olhos e as partes indigestas
Que os leopardos rejeitaram. A Dama retirou-se
De branco vestida, orando, de branco vestida.
Que a brancura dos ossos resgate o esquecimento.
A vida os excluiu. Como esquecido fui
E preferi que o fosse, também quero esquecer
Assim contrito, absorto em devoção. E disse Deus:
Profetiza ao vento e ao vento apenas, pois somente
O vento escutará. E os ossos cantaram em uníssono
Com o estribilho dos grilos, sussurrando:

Senhora dos silêncios
Serena e aflita
Lacerada e indivisa
Rosa da memória
Rosa do oblívio
Exânime e instigante
Atormentada tranqüila
A única Rosa em que
Consiste agora o jardim
Onde todo amor termina
Extinto o tormento
Do amor insatisfeito
Da aflição maior ainda
Do amor já satisfeito
Fim da infinita
jornada sem termo
Conclusão de tudo
O que não finda
Fala sem palavra
E palavra sem fala
Louvemos a Mãe
Pelo Jardim
Onde todo amor termina.

Cantavam os ossos sob um zimbro, dispersos e alvadios,
Alegramo-nos de estar aqui dispersos,
Pois uns aos outros bem nenhum fazíamos,
Sob uma árvore ao frescor do dia, com a bênção das areias,
Esquecendo uns aos outros e a nós próprios, reunidos
Na quietude do deserto. Eis a terra
Que dividireis conforme a sorte. E partilha ou comunhão
Não importam. Eis a terra. Nossa herança.


 III

Na primeira volta da segunda escada
Voltei-me e vi lá embaixo
O mesmo vulto enrodilhado ao corrimão
Sob os miasmas que no fétido ar boiavam
Combatendo o demônio das escadas, oculto
Em dúbia face de esperança e desespero.   
 
Na segunda volta da segunda escada
Deixei-os entrançados, rodopiando lá embaixo;
Nenhuma face mais na escada em trevas,
Carcomida e úmida, como a boca
Imprestável e babugenta de um ancião,
Ou a goela serrilhada de um velho tubarão.   

Na primeira volta da terceira escada
Uma túmida ventana se rompia como um figo
E além do espinheiro em flor e da cena pastoril
A silhueta espadaúda de verde e azul vestida
Encantava maio com uma flauta antiga.
Doce é o cabelo em desalinho, os fios castanhos
Tangidos por um sopro sobre os lábios,
Cabelos castanhos e lilases;
Frêmito, música de flauta, pausas e passos
Do espírito a subir pela terceira escada,
Esmorecendo, esmorecendo; esforço
Para além da esperança e do desespero
Galgando a terça escala.

Senhor, eu não sou digno
Senhor, eu não sou digno 
mas dizei somente uma palavra. 

 
IV

Quem caminhou entre o violeta e o violeta
Quem caminhou por entre
Os vários renques de verdes diferentes
De azul e branco, as cores de Maria,
Falando sobre coisas triviais
Na ignorância e no saber da dor eterna
Quem se moveu por entre os outros e como eles caminhou
Quem pois revigorou as fontes e as nascentes tornou puras

Tornou fresca a rocha seca e solidez deu às areias
De azul das esporinhas, a azul cor de Maria,
Sovegna vos

Eis os anos que permeiam, arrebatando
Flautas e violinos, restituindo
Aquela que no tempo flui entre o sono e a vigília, oculta

Nas brancas dobras de luz que em torno dela se embainham.
Os novos anos se avizinham, revivendo
Através de uma faiscante nuvem de lágrimas, os anos, resgatando
Com um verso novo antigas rimas. Redimem
O tempo, redimem
A indecifrada visão do sonho mais sublime
Enquanto ajaezados unicórnios a essa de ouro conduzem.

A irmã silenciosa em véus brancos e azuis
Por entre os teixos, atrás do deus do jardim,
Cuja flauta emudeceu, inclina a fronte e persigna-se
Mas sem dizer palavra alguma

Mas a fonte jorrou e rente ao solo o pássaro cantou
Redimem o tempo, redimem o sonho
O indício da palavra inaudita, inexpressa

Até que o vento, sacudindo o teixo,
Acorde um coro de murmúrios

E depois disto nosso exílio
 

 V
 
Se a palavra perdida se perdeu, se a palavra usada se gastou
Se a palavra inaudita e inexpressa
Inexpressa e inaudita permanece, então
Inexpressa a palavra ainda perdura, o inaudito Verbo,
O Verbo sem palavra, o Verbo
Nas entranhas do mundo e ao mundo oferto;
E a luz nas trevas fulgurou
E contra o Verbo o mundo inquieto ainda arremete
Rodopiando em torno do silente Verbo. 
                    
Ó meu povo, que te fiz eu.  
 
Onde encontrar a palavra, onde a palavra
Ressoará? Não aqui, onde o silêncio foi-lhe escasso
Não sobre o mar ou sobre as ilhas,
Ou sobre o continente, não no deserto ou na úmida planície.
Para aqueles que nas trevas caminham noite e dia
Tempo justo e justo espaço aqui não existem
Nenhum sítio abençoado para os que a face evitam
Nenhum tempo de júbilo para os que caminham
A renegar a voz em meio aos uivos do alarido   

Rezará a irmã velada por aqueles
Que nas trevas caminham, que escolhem e depois te desafiam,
Dilacerados entre estação e estação, entre tempo e tempo, entre
Hora e hora, palavra e palavra, poder e poder, por aqueles
Que esperam na escuridão? Rezará a irmã velada
Pelas crianças no portão
Por aqueles que se querem imóveis e orar não podem:
Orai por aqueles que escolhem e desafiam   

Ó meu povo, que te fiz eu.   
Rezará a irmã velada, entre os esguios
Teixos, por aqueles que a ofendem
E sem poder arrepender-se ao pânico se rendem
E o mundo afrontam e entre as rochas negam?
No derradeiro deserto entre as últimas rochas azuis
O deserto no jardim o jardim no deserto
Da secura, cuspindo a murcha semente da maçã.   
                     
Ó meu povo.   
 
 
VI  

Conquanto não espere mais voltar
Conquanto não espere
Conquanto não espere voltar   

Flutuando entre o lucro e o prejuízo
Neste breve trânsito em que os sonhos se entrecruzam
No crepúsculo encruzilhado de sonhos entre o nascimento e a 
morte
(Abençoai-me pai) conquanto agora
Já não deseje mais tais coisas desejar
Da janela debruçada sobre a margem de granito
Brancas velas voam para o mar, voando rumo ao largo
Invioladas asas   

E o perdido coração enrija e rejubila-se
No lilás perdido e nas perdidas vozes do mar
E o quebradiço espírito se anima em rebeldia
Ante a arqueada virga-áurea e a perdida maresia
Anima-se a reconquistar
O grito da codorniz e o corrupio da pildra
E o olho cego então concebe
Formas vazias entre as partas de marfim
E a maresia reaviva o odor salgado das areias  

Eis o tempo da tensão entre nascimento e morte
O lugar de solidão em que três sonhos se cruzam
Entre rochas azuis
Mas quando as vozes do instigado teixo emudecerem
Que outro teixo sacudido seja e possa responder.  

Irmã bendita, santa mãe, espírito da fonte e do jardim,
Não permiti que entre calúnias a nós próprios enganemos
Ensinai-nos o desvelo e o menosprezo
Ensinai-nos a estar postos em sossego
Mesmo entre estas rochas,
Nossa paz em Sua vontade
E mesmo entre estas rochas
Mãe, irmã
E espírito do rio, espírito do mar,
Não permiti que separado eu seja
E que meu grito chegue a Ti.   


Este poema ocupa a posição 16ª dos Os 100 Melhores Poemas Internacionais do Século XX






Título: Poemas Escolhidos
Editor: Relógio D'Água
Data de publicação/reimpressão: 2016


Thomas Stearns Eliot nasceu a 26 de Setembro de 1888 em Saint-Louis, Missouri, descendente de imigrantes ingleses. Quando morreu em Londres, em Janeiro de 1965, era reconhecido como um dos mais influentes poetas, dramaturgos e críticos modernos.



Aproximação de culturas | Diversidade cultural e valores universais








A Década Internacional para a Aproximação de Culturas (IDRC) baseia-se no forte momento criado e nas realizações da Década Internacional por uma Cultura de Paz e Não-Violência para as Crianças do Mundo (2001-2010) e o Ano Internacional para a reaproximação de culturas (2010).

A atual onda de conflitos, atos de violência e intolerância exige ações urgentes. Povos e nações precisam unir forças para o desenvolvimento de uma consciência global universal livre de estereótipos e preconceitos. A Década Internacional para a Aproximação de Culturas deve ser entendida como um compromisso para atender a essa necessidade premente de levar em conta e demonstrar claramente novas articulações entre diversidade cultural e valores universais.

A “aproximação das culturas” implica que a segurança internacional e a inclusão social não podem ser alcançadas de maneira sustentável sem o comprometimento com princípios como dignidade humana, convívio e solidariedade, que são as pedras angulares da convivência humana, em todas as religiões e ideologias seculares.



Década Internacional para a Aproximação de Culturas (IDRC) - 2013-2022



1 livro, um filme | O meu pé de laranja lima



O livro



Autor: Vasconcelos, José Mauro de Vanconcelos (1920-1984)
Ilustração: Jayme Cortez (1926-1987)
14.a ed
Editora: Booksmile
Data de publicação/impressão: 2017
ISBN: 978-989-8491-88-6



Sinopse

O romance conta a história de Zezé, um menino com apenas oito anos, que mora no bairro pobre de Bangu, no Rio de Janeiro, e da sua amizade com um homem mais velho, o Portuga. Traquina e sensível, Zézé é também um excepcional contador de histórias. A sua família é pobre e numerosa e a falta de afecto fá-lo recolher-se num mundo imaginário onde Minguinho, um pé de laranja-lima plantado no seu quintal, se torna o seu mais íntimo amigo, protegendo-o da triste realidade que é a sua vida. Um dia, numa das suas travessuras, conhece Manoel Valadares, um português solitário e rezingão, temido por todas as crianças do bairro. Os dois, apesar de muito diferentes, tornam-se inseparáveis. Ao mostrar o poder da imaginação ao "Portuga", Zezé descobre também o consolo de uma amizade verdadeira…


O filme 



O Meu pé de laranja lima, realizado por Aurélio Teixeira (1970)


A adaptação cinematográfica do romance, de 1970, por Aurélio Teixeira que interpreta o papel De Portuga, é a versão mais fidedigna à obra homónima e autobiográfica de José Mauro de Vasconcelos, escrita em 1968. 


O livro e o filme estão disponíveis na Biblioteca.


Centenário | José Mauro de Vasconcellos




O escritor de 'O Meu Pé de Laranja Lima', José Mauro de Vasconcellos, nasceu em 26 de fevereiro de 1920.








terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

(In)Sustentabilidade




Entre o dever
                          o fazer...




Cartoon de Guido Kuehn




Biblioteca de Bolso | Escrita no feminino







Um Podcast de José Mário Silva









"Quase dois anos depois, voltamos ao podcast, eu e a Inês Bernardo, agora com nova periodicidade quinzenal. Para desenferrujar as vozes, fizemos um programa atípico, não sobre livros já lidos, como é suposto, mas em vez disso sobre livros que tencionamos ler em 2020. Só obras escritas por mulheres – e sim, é um 'statement'. A partir do próximo episódio, regressaremos ao formato habitual."


Nesta edição fala-se sobre:

“Los Niños Perdidos” - Valeria Luiselli
“Ducks, Newburyport” - Lucy Ellmann
“Weather” - Jenny Offill
"Essays" - Lydia Davis
"Testaments" - Margaret Atwood
"Girl, woman, other" - Bernardine Evaristo


+Leitur@s | A primeira viagem em redor do mundo









Autor : Antonio Pigafetta
Editor : Oficina do Livro
Data de lançamento : 11/02/2020 
ISBN : 9789896607609 
Nº Páginas : 152





Relato na primeira pessoa da viagem de circum-navegação de Fernão de Magalhães, feito pelo representante da Corte de Veneza, que sobreviveu para contá-la — foi um dos 18 homens, entre 237, que voltaram.

Em agosto de 1519, Fernão de Magalhães içou âncoras do porto de Sevilha, ao serviço da Coroa espanhola. Tinha início a primeira viagem em redor do Mundo, que descobriria novas rotas de navegação e alteraria todos os mapas da Terra existentes até então. Comandava cinco navios e 237 homens. 

Embarcado como representante da corte de Veneza na expedição espanhola, Antonio Pigafetta sobreviveu à terrível viagem e celebrizou-se como cronista da grande aventura. Cruzaram aquele que seria batizado de estreito de Magalhães, descobriram o maior oceano da Terra (o Pacífico), passaram pela Ásia onde Magalhães foi tragicamente morto por nativos filipinos, contornaram a África e então regressaram a Espanha, em setembro de 1522. 

A armada havia sido reduzida a um só navio, o Victoria, e 18 homens famintos, entre eles Pigafetta.



Kizette em Rosa




Kizette em Rosa (1926), de Tamara de Lempicka, Polónia (1898-1989)





Tamara Lempica (nascida Maria Górska, em Carsóvia, Polónia) desenvolveu um estilo único e ousado (definido por alguns como "cubismo suave"), que resumia os ideias do modernismo de vanguarda da art déco.

Foi também uma notável figura boémia parisiense, tendo conhecido nomes como Pablo Picasso e Jean Cocteau.

Imortalizou a sua filha Kizette em vários quadros Kizette em Rosa (1926); Kizette na Sacada (1927); Kizette Dormindo (1934; Retrato da Baronesa Kizette (1954-1955).


+Leitur@s | O silêncio das mulheres









Autor : Pat Barker
Editor : Quetzal Editores
Data de lançamento : 14/02/2020 
ISBN : 9789897225918 
Nº Páginas : 384




O romance da escritora britânica distinguida com o Booker Prize, qualificado pelo “The Times” como “soberbo”, conta a história esquecida das mulheres da “Ilíada”, de Homero.

As mulheres no coração da guerra de Troia. Uma Ilíada feminista. Conhecemos da Ilíada o nome de heróis masculinos, como Aquiles, Ulisses, Páris, Agamémnon ou Heitor — mas este romance, narrado por Briseida, rainha de Lirnesso (cidade vizinha de Troia e dos seus campos de batalha), troféu e concubina de Aquiles após a tomada da cidade pelos Gregos, é a história das mulheres do poema de Homero, figuras frequentemente esquecidas ou desvalorizadas: as escravas, as prostitutas, as enfermeiras, as que cuidam dos mortos e dos vivos, as que observam as batalhas e primeiro sofrem os seus horrores. Reenviando-nos às grandes páginas da literatura da Antiguidade, O Silêncio das Mulheres é um convite a escutar as vozes silenciadas pela História e pelo poder — e um livro belíssimo sobre a realidade brutal da guerra e da escravidão, e também do amor e suas controvérsias.


O cornicho de Aquiles



O Mito Lógico | Luís Pedro Nunes



Aquiles ferido no seu ponto fraco, o calcanhar



Caminhar almofadado, descalço ou deixar de andar. Dilemas civilizacionais
B
icos de papagaio no calcanhar? Podia lá ser? Podia. Quase dois anos após uma ridícula queda de mota que resultou em seis parafusos no maléolo e um pé deslocado — tudo resolvido em três meses —, eis que comecei a coxear do lado esquerdo. Feito o raio X, ali estava um cornicho ósseo no calcâneo. É o que o Trump alegou para se safar do Vietname, galhofou-se. Os tais bone spurs. Não pode. Pode. Bom... agora... agora é aprender a viver com um corno no calcanhar. OK. E como se faz isso? E aqui entrámos numa questão civilizacional. Antropológica.

O cirurgião ortopédico apontou um caminho. O fisioterapeuta outro. Um aconselhou a usar proteções fofas na zona do calcanhar, de modo a minorar as dores (ah, já disse que isto dói como o caraças?), o outro que devia usar calçado sem proteção, porque o problema era o andar baseado no calcanhar. Ora eu já conhecia este “cisma civilizacional do caminhar”. Até tinha escrito sobre tal quando há mais de uma década o guru da corrida descalço, Christopher McDougall, era a última Coca-Cola no deserto e toda a gente achava que se ia passar a correr maratonas sem calçado. Mas agora a situação era mais grave. Ou passava a usar ténis hiperalmofadados ou passava para pé descalço. Com um asterisco: tinha de reaprender a andar. Certo. Analisemos a situação.

Eis a teoria que deduzo esteja correta, dado estar sustentada em inúmeros estudos científicos cheios de bonecos e gráficos. Só há muito pouco tempo os humanos usam calçado; as primeiras sandálias surgiram apenas há uns milhares de anos, uma gota de água na evolução do hominídeo, e mesmo assim nem foi algo generalizado. E o salto alto só há bem pouco tempo. Seja como for, estamos programados mais para andar do que para correr. E para andar descalços. O que se sabe hoje e não se sabia há uns anos é que mesmo uns pés horrorosamente calejados que nunca tenham usado calçado mantêm sensibilidade e conexões ao sistema nervoso que lhes permitem dar indicações sobre o tipo de terreno que pisam (mole/duro, quente/frio), e acima de tudo o andar/correr de quem anda descalço tem uma biomecânica diferente do que fazemos atualmente. Melhor dizer o contrário, porque é o correto: atualmente andamos e corremos de forma diferente do que os nossos antepassados fizeram desde que se ergueram e se decidiram pela postura bípede — o que fez com que os olhos saíssem do chão e tenha dado aos pés uma maior responsabilidade tátil. Essa forma de se locomover não se poderia basear num movimento que começa no calcanhar com apoio do peso do corpo nesse ponto, sustentação sobre a planta do pé e movimento de mola para seguirmos para o passo seguinte. Não podia porque, se fossemos descalços pisar uma superfície espinhosa ou cortante, esse tipo de caminhar seria uma experiência desagradável, digamos. Depois de analisar não sei quantas tribos que correm descalças e comparar os impactos e forças e o raio percebeu-se que o movimento passa por colocar primeiro a planta do pé, nomeadamente as almofadinhas da frente (que assim auscultam o terreno), assentar o pé, e só aí o corpo e seu peso avança, e depois o pé faz o seu efeito de mola de impulso, com ajuda de uma perna que se estica. Mais fácil escrever do que fazer. Pareço o ministro do silly walk a tentar. E no entanto tem lógica, e mesmo nos gráficos está demonstrado que até é mais eficiente e o diabo.
Luís Pedro Nunes, E-Revista Expresso, 22 de fevereiro de 2020


As máscaras



Crónica de Guta Moura Guedes








O Carnaval não é algo que facilmente se explique. Entranha-se no corpo e na cabeça e nunca mais sai
N
asci e cresci na província, já o escrevi aqui. Agora vivo em Lisboa, mas tenho aquilo a que nós, os que nascemos fora das grandes cidades, chamamos “terra”. A minha terra é Torres Vedras, cidade velha, com muita história, muito campo, muito verde. Diferente de todas as outras, pois todas são diferentes entre si. Mas esta tem algo de muito especial: Carnaval. Comprovadamente — ao que parece — o mais antigo de Portugal. Enraizado na nossa cultura e com uma dimensão irónica e uma liberdade crítica como poucos têm.


Ora, isto do Carnaval não é algo que facilmente se explique. Suponho que quase entre no sangue quando se respira o ar pela primeira vez e se vive a infância num sítio que tem Carnaval. Entranha-se no corpo e na cabeça e nunca mais sai. O porquê escapa-se-me. Aqui e ali acredito que será porque permite que sejamos outros que não nós durante quatro ininterruptos dias (e noites). Essa ideia da máscara, do artefacto que ao ser usado nos transforma, existe em muitos outros contextos que não o do Carnaval especificamente. Muitos dos rituais, religiosos ou não, são efectuados usando máscaras e vestimentas específicas, com o objectivo de conferir a quem os usa mais poder e mais impacto. Antropológica e socialmente a ideia de disfarce, de transformação, de troca de identidade é atraente, conhecida e foi usada ao longo de milénios. Tem, isso é seguro, no Carnaval um dos seus expoentes máximos.
A concepção da máscara é um acto de design. O desenho em si dos objectos vários que compõem uma personagem passa concretamente por todas as fases do design de produto ou de vestuário. Mas é um acto de design também pela parte de quem passa a ser outro. A criação da identidade e personalidade de um personagem que se veste durante uns dias ou umas horas é um exemplo de desenho. Que todos nós, os que nos mascaramos, fazemos. Delineamos um estereótipo, montamos a sua forma de agir e o seu discurso, e depois, literalmente, vestimos uma das suas possíveis imagens. E sai-se para a rua, porque nada disto funciona sem público e sem interacção ou sem música e celebração.
Essa é a possibilidade que uma máscara dá.
Quem não gostaria de experimentar ser outro durante algum tempo?

Guta Moura Guedes, E-Revista Expresso, 22 de fevereiro de 2020
Guta Moura Guedes escreve de acordo com a antiga ortografia