Vol.6, nº3, set-dez 2023
Sumário
AS ARTES, AS EXPERIÊNCIAS E OS MUNDOS DA VIDA
Paula Guerra*
Os processos criativos nunca foram tão discutidos como hoje. O uso das práticas artísticas enquanto apanágio da crítica, da reflexão, da mudança e da exaltação, são temas de ordem no escopo da investigação académica, principalmente no campo das ciências sociais e, mais especificamente, na sociologia. Num sentido lato, neste Volume 6, Número 3, encontrámos uma ode às mais diversas práticas artísticas, desde a literatura ao teatro, passando pelo cinema e até mesmo pelo graffiti. Em todos os artigos que compõem esta edição, vislumbramos uma relação entre identidades, processos de democratização, mas também emergentes formas de analisar a realidade social–do passado ao presente- a partir de atos de criação que, frequentemente, se afastam das instituições e que são tomados em mãos pelos agentes sociais e por agentes criativos.
Nussbaum (2010), problematizando a criação artística, defende que existe uma relação intrínseca entre o envolvimento cultural e artístico e a ação dos cidadãos dentro dos sistemas democráticos. A cultura e a arte geram espaços vitais de debate, de crítica, de contestação e, por turno, são eles próprios potenciadores de novos espaços de fala, de debate e de criação na esteira de Huizinga (2003). Criação gera criação. A arte gera envolvimento social. Recentemente, Flisbäcke Bengsson (2023) destacaram um conceito que nos pareceu relevante para esta introdução: falamos do conceito de sociologia da existência. Vários questionamentos emergiram, tais como, haverá existências em arte? Será o ato de existir, ele próprio artístico? E quanto à existência da arte? De quantas existências falamos, quando falamos em criação?
*Universidade do Porto,
Faculdade de Letras e Instituto de Sociologia, CITCEM, CEGOT,
Dinâmia’CET,Griffith Centre for Cultural Research, Porto, Portugal